EU ANEXARIA OS PLANETAS SE PUDESSE
Helena Zarvos
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O autor dessa frase foi Cecil Rhodes, um dos maiores incentivadores do imperialismo britânico.
“O mundo está quase todo parcelado e o que dele resta está sendo dividido,conquistado,c olonizado. Penso nas estrelas que vemos à noite, nesses vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas se pudesse, penso sempre nisso. Entristece-me vê los tão claramente e ao mesmo tempo tão distantes”.
O pensamento, expresso no final do século XIX, revela claramente parte da problemática decorrente de uma crise de superprodução na Inglaterra.
“Aos vossos olhos, somos selvagens, animais obscuros, incapazes de distinguir entre o Bem e o Mal. Não somente vos recusais a tratar-nos em pe de igualdade como temeis até nossa aproximação,como se fossemos objetos de asco(...). Nosso coração se enche de tristeza e de vergonha, quando á noite, repassamos todas as humilhações que sofremos durante o dia. Presos a uma máquina que mina nossa energia, estamos reduzidos à impotência. Por isso é que só os mendigos ousam apresentar-se nos escritórios dos franceses”
O texto acima foi escrito por Fan Isu Trinh, nativo da Indochina, no final do séc.XIX.
Essa região hoje é conhecida como Vietnã,Laos e CambodJá
“Proibida a entrada de chineses e de cachorros”
Tal proibição é auto-explicativa,no contexto da dominação britânica na China.
Dispensável relembrar o passado colonial da India até Ghandi.
Doloroso demais e desnecessário relatar os sofrimentos e humilhações sofridas por grande parte da população da Africa depois da partilha da mesma. A própria denominação dada a essa divisão na Conferencia de Berlim em 1885, já é aviltante se pensarmos que se tratava de dividir entre predadores uma contingente humano e cultural.Um saque a todo um continente.
A Asia conseguiu recuperar a própria dignidade com exemplos de altivez e força.Mahatma Ghandi na India, Vietnã da forma como todos sabemos expulsando franceses e americanos e China com Mao Tse Tung.
Mas e a Africa?
A Africa pede socorro ao mesmo continente que a explorou em séculos passados, em barcos colocados a sua disposição por exploradores que os abandonam a deriva numa metáfora de tudo o que o processo histórico fez e faz com os descartáveis e descartados. Seres humanos que não são úteis. Nações que já foram sugadas e cujo bagaço não tem utilidade alguma.
A História é mestra em nos reafirmar algo em que acredito piamente...na vida não existe sorte ou azar. Existe conseqüência. E a mais triste conseqüência para um ser humano é ser fraco num mundo onde impera a lei do mais forte.
Esse barco a deriva dos imigrantes africanos acossados por toda a miséria que aflige esse continente como herança do colonialismo europeu precisa de resposta urgente do que resta de humanidade em nossos corações.
Numa reflexão dessas é que teríamos que ter a coragem de nos olharmos no espelho e perguntar...será que parte de toda essa dor no mundo não é fruto de acharmos que isso é coisa dos governos e que nada temos a ver com o problema?
Entender o que é um governo,qual é o limite de seu raio de ação,o que é um sistema político e qual é a extensão de seu poder faz parte de nosso compromisso pessoal com o mundo em que vivemos.Fica mais fácil um pouco deliberar,distinguir o que é filantropia,o que é consciência política e mobilização.
Uma ação não exclui a outra,mas é importante saber o que queremos fazer e porque estamos agindo.
Como disse...nada é pior do que um barco à deriva.
Helena Zarvos hzarvos@yahoo.com.br
Historiadora e Escritora. Sua família tem origens na Grécia.
Seus textos são: