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DE QUEM É A CULPA PELA MORTE DO MENINO SÍRIO DA FOTO?

Fabrício Santos

   No fim do mês de Agosto deste ano, a foto do menininho sírio, afogado e morto em uma praia da Turquia, foi transformada em símbolo da crise humanitária que envolve diretamente três continentes pelo que ela tem de comum e não de especial: poderia ser o filho de qualquer um de nós, com suas roupas e seu corte de cabelo comuns. Mais do que isso: de bruços e com a face voltada para a areia, ele não tinha um rosto. E, portanto, representava os rostos de muitas crianças.

 

   Doendo aos olhos e mexendo com o estômago, imagens como esta têm o poder de trazer a realidade para perto, afinal, é fácil ficar indiferente diante de números de violência, mas com rostos, a situação muda de figura. Dizer que milhares de pessoas morrem afogadas na tentativa de fugir do conflito na Síria ou de fome na África é uma coisa. Mas mostrar a morte de uma criança, usando as mesmas roupas e, quiçá, o mesmo corte de cabelo que o filho de qualquer um de nós é outra.

 

    Quem é pai ou mãe, sabe o que isso significa. Poderia ser seu filho. Também poderia ser o meu.

 

   Ou, quem sabe, trazer o corpo frio de um rapaz moreno, de olhos bonitos, que era marceneiro, e de sua noiva, professora, que gostava de cantar de manhã. Ou ainda os cadáveres de três adolescentes de uma mesma família, que sempre esperavam até a noite acordadas a chegada do pai que trazia comida para dentro de casa. Ou de um motorista de uma ambulância, que tinha orgulho do seu trabalho.

 

   Somente quando o outro deixa de ser estatística, e passa a ser um semelhante, pois é feito de carne e osso e não de números, é que passamos a dar valor a vida. Ou talvez sirva para nos lembrarmos que estamos vivos, mas ao mesmo tempo, tão preocupados com nosso próprio universo que não identificamos o outro. Nesse momento, há uma aproximação, uma identificação, fundamental para empurrar os espectadores de um conflito para ações, de protesto, de boicote.

 

   Seja em uma crise humanitária no Mediterrâneo, em um massacre no Oriente Médio, em uma guerra entre grupos rivais na África, na luta pela independência do Sudeste Asiático ou por conta da violência armada em favelas das grandes cidades do Brasil.

 

   Vivemos em um mundo cuja informação se espalha em tempo real. Mas, mesmo com essa facilidade, muitos se furtam de ter acesso ao mundo. Ao mesmo tempo, a tecnologia bélica transformou certos conflitos em cenas de videogame, filtrando sangue, suor e vísceras pelas lentes de drones e câmeras de aviões e helicópteros.

 

   O que chega, não raro, à tela de uma TV, de um computador ou de um smartphone é algo asséptico, palatável, consumível em doses homeopáticas. Pois não parece humano e sim ficção. Quando a comunicação é globalizada, cresce a força e a importância de ações globalizadas pela paz. Acertam os veículos de comunicação que divulgaram as imagens que não configuram sensacionalismo como os programas espreme-que-sai-sangue da TV, que repetem aquilo que já se sabe pelo tesão da audiência. Mas são uma declaração pública contra a barbárie.

 

   Diante disso, a ignorância do que acontece à nossa volta deixa de ser uma benção e passa a se configurar delinqüência social. Diante disso, caso esse pequeno anjo sírio não surgisse morto nas praias após uma tentativa frustada de não viver em guerra, ainda estaríamos inerente à qualquer grandes números de falecidos em estatísticas.

 

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Fabrício Santos fabow@agenciainpulso.com.br

Formado em Matemática pela UNESP (Rio Claro - SP) e em Marketing pela FGV (São Paulo - SP), é Designer gráfico / Marketing DIGITAL há 15 anos em Rio Claro-SP e co-criador do novo Portal ClaudioDiMauro.com.br

 

 

Seus textos são:

A Volta das Fogueiras da Inquisição 1 de julho de 2015
De Quem é a Culpa pela Morte do Menino Sírio da Foto? 2 de outubro de 2015
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