O DIA OU OS DIAS DO MEIO AMBIENTE?
Dalberto Christofoletti
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No mês de junho comemora-se o dia mundial do meio ambiente e para os ambientalistas não há nada mais irritante do que realizar eventos ambientais em um dia do ano e esquecer os outros 364, principalmente quando sabemos da característica inerente a toda ação ambiental bem sucedida: a continuidade.
Outra dificuldade para se promover uma “comemoração” é o maior desastre ambiental da história dos EUA, com o poço de petróleo submarino ainda vazando e afetando praias, fauna e vegetações peculiares como o marisma. O derrame de petróleo nos EUA deve ensinar o Brasil, país que se destaca no mesmo tipo de prospecção, com perspectiva de aumento devido às reservas de pré-sal. Nesse sentido, foi inteligente a atitude da Petrobras de enviar especialistas para o Golfo do México para aprender com o desastre.
Mesmo com o quadro citado, é válido nesse momento resgatar alguns documentos fundamentais organizados pelos ambientalistas nas últimas décadas. É um bom recomeço para a causa ambiental.
No decorrer de 2010 a ONU promove o ano da biodiversidade para garantir a aplicação das propostas da Convenção sobre Biodiversidade promovida durante a Conferência Internacional Eco-92 realizada no Rio de Janeiro. Segundo o documento da Convenção “a contribuição da biodiversidade na vida, além de ser prática, física, orgânica e utilitária, é também cultural. O desaparecimento de espécies únicas é uma perda incalculável e irreversível que nos deixa muito mais pobre”.
A partir disso, percebemos que a biodiversidade deve ser respeitada dentro de um contexto amplo, o que inclui o respeito à diversidade biológica, mas também a diversidade humana na opção religiosa, política, comportamental, sexual e até mesmo étnica.
Não devemos esquecer, inclusive, de que o nosso desenvolvimento, especialmente o agrícola, depende de nossa incrível disponibilidade de ar, solo e água.
Compartilhamos o planeta com treze milhões de espécies vivas distintas, entre elas, se incluem plantas, animais, bactérias, das quais somente 1,75 milhões foram identificadas, menos de 15%.
Manter a biodiversidade, entretanto, tem se mostrado tarefa árdua. Como estamos em ano de Copa do Mundo, vale a metáfora futebolística: por ano são destruídos o equivalente a 17 milhões de campos de futebol de floresta tropical, numa velocidade de um campo de futebol a cada dois segundos! O quadro é alarmante ainda em biomas com grande biodiversidade, porém não tão celebrados pela mídia como o cerrado e a caatinga, esta última que representa o único bioma exclusivamente brasileiro.
Para combater essa situação é válido resgatar mais dois documentos de referência para a causa ambiental. Um deles é a “Carta da Terra”, concluída em 2000 e fruto do trabalho conjunto das Nações Unidas, governos e mais de 4500 movimentos ambientais.
Os princípios da Carta são:
- Garantia da integridade ecológica
- Justiça econômica e social
- Cuidado com a comunidade de vida
- Democracia, não-violência e paz.
Infelizmente, a “Carta da Terra” é pouco conhecida, estudada e menos ainda aplicada. Outro documento importante é a “Agenda 21” - metas ambientais dos governos e instituições segundo a Convenção de Mudanças Climáticas e a Convenção sobre Biodiversidade. Assim como a “Carta da Terra”, a “Agenda 21” não “pegou”, ou seja, os governos, instituições privadas e sociedade civil ainda não a internalizaram cotidianamente, por isso pouco adiantará lembrar delas somente no “dia do meio ambiente”. Não é verdade?
Dalberto Christofoletti dalbertochristofoletti@gmail.com
Dalberto Christofoletti é professor de Geografia / Geopolítica e coordenador de projetos socioambientais. Atualmente, Dalberto foi vereador na cidade de Rio Claro (SP) na gestão entre 2013 - 2016
Seus textos são: