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o sonho de genivaldo

Cilmar Machado

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   Genivaldo, 30 anos, nordestino de Cabrobó, cortador de cana em Lins, São Paulo. Solitário, vive num barraco na periferia da cidade. De hábitos simples, adora televisão. Fã de novelas, acompanha a carreira de Giovanna Antonelli, desde quando viveu a bela Jade, em O Clone. De lá pra cá, a atriz passou a ser o secreto objeto de desejo de Genivaldo, que tudo daria para ter com ela uma noite de amor. Suas fantasias já levaram Giovanna para debaixo de seu chuveiro, para cima de sua cama e para sonhos eróticos indescritíveis. Até aqui, nada demais. Sonhar não é pecado, não é? Especialmente para quem tem nessa fantasia uma compensação ao trabalho árduo, de sol a sol e mal remunerado.     

 

   Tudo ia bem até quando, no programa do Ratinho, Genivaldo viu um doutor falando sobre o valor e a força do pensamento humano. Dizia ele: ¨Talvez você não saiba, mas o que você está pensando agora gera uma energia que se manifesta no que você está sentido, e isso tem o poder de ligar você com pessoas que mantem o mesmo tipo de sentimento, estejam elas onde estiverem¨ Pronto! Era o que Genivaldo precisava ouvir para reascender seus sonhos eróticos para com Giovanna Antonelli!

 

   Concluiu que, se entrasse mentalmente em contato com ela, manifestando seu desejo de forma intensa e constante, a atriz viria até ele. Passou a acreditar piamente nisso e a devotar-lhe pedidos e mais pedidos mentais para que se encontrassem em seu ninho de amor. Por mais de três meses esse seu comportamento esquisito perdurou. Passou a ter miragens, vendo a atriz em todos os lugares, mas nada! Nenhuma resposta dela.

 

   Estava quase desistindo quando certa noite, já em traje de Adão, se preparando para dormir, ouviu o toque de três batidas leves na porta de seu barraco. Seria ela? Rapidamente enrolou-se na toalha de banho que acabara de usar e foi atender.

 

   Qual não foi sua surpresa ao abrir a porta e se deparar com um rapaz alegre, todo cheio de brincos e badulaques que, sem maiores cerimônias, invadiu o cômodo dizendo de chofre: ¨ Venho da parte de Giovanna Antonelli, meu bem. Ela já não aguentava mais seus pedidos mentais e, por estar muito atarefada com a gravação de sua nova novela, mandou-me em seu lugar. Muito prazer, bofe. Meu nome é Juju, cabelereiro de sua ¨ ídola ¨. Vim aqui para que você conhecesse de perto um verdadeiro clone, amor! ... ¨

 

   Sem que Genivaldo pudesse pronunciar qualquer palavra ou esboçar uma reação em contrário, Juju partiu para o ataque arrastando-o para a cama. Genivaldo se debatia furiosamente arrancando as muitas penas do traje do traveco até quando, não aguentando mais, deixou de reagir dando um sonoro grito de ai.

 

   Foi aí que acordou, suado e com muitas penas do travesseiro em suas mãos e espalhadas pela cama. Foi um sufoco, do qual Genivaldo só se restabeleceu após um demorado banho que se fez seguir de um sono aliviado e profundo.

 

   Mas não pensem que Genivaldo aprendeu a lição. Ele apenas mudou de foco. No dia seguinte, lá estava ele pensando firme e inexplicavelmente em Ronaldo Fenômeno. Pode?

 

Cilmar Machado cilmarmachado@yahoo.com.br

Radialista e proprietário da RÁDIO ALVORADA, de Lins (SP)

 

 

 

Seus textos são:

A Árvore 15 de junho de 2015
O Sonho de Genivaldo 1 de julho de 2015
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