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A ÁRVORE

Cilmar Machado

   Pedrinho era um menino de dez anos, muito esperto e amante das plantas, a exemplo de seu avô a quem ajudava no cultivo de vários vegetais. Certo dia, uma estranha árvore chamou a atenção do garoto por sua beleza. Perguntou ao avô a que espécie tal vegetal pertencia. Experiente, o velho sentenciou:

 

    - Essa é uma árvore rara e de difícil cultivo, mas todo trabalho que venha a exigir, compensa infinitamente.

 

    Não compreendendo bem o que o avô lhe dissera, Pedrinho retrucou:

 

    - Toda árvore exige cuidado, vô! Basta regá-la e adubá-la regularmente para que ela cresça forte, bela e sadia, não é?

 

    - Sim, Pedrinho. Mas o adubo para esta árvore é diferente e depende muito do esforço e persistência de quem trata dela.

 

    - Que adubo misterioso é esse, vô? Um pouco de NPK e esterco bovino, acompanhados de regas fartas e constantes não resolvem? Foi assim que o senhor me ensinou no trato para com as árvores deste jardim, não é?

 

    - Essa rara árvore exige que sua adubação seja de seis em seis meses e que venha de nós, de nossos atos...

 

    Interessado, o menino perguntou:

 

    - Se é assim, eu me proponho a cuidar dela, vô. Por onde começo?

 

    Satisfeito com a intenção do neto, o velho e sábio avô, aconselhou:

 

    - Comece por conhecer a si mesmo. Por seis meses, volte-se para si, analise suas qualidades, corrija eventuais defeitos e ao final ofereça esse precioso adubo à árvore.

 

    E assim foi feito. A árvore agradeceu generosamente e cresceu mais um pouco de forma vigorosa. Animado, Pedrinho voltou ao avô, perguntando-lhe a fórmula do próximo adubo.

 

    - Agora, o vegetal está exigindo que você conheça e compreenda melhor as pessoas com as quais convive. Ouça-as mais e as ame de maneira leal e verdadeira.

 

    Por mais uma vez, seis meses após, a árvore foi assim adubada. A resposta foi a formação de uma frondosa copa, através de farta brotação.

 

    E assim os meses e anos se sucederam e Pedrinho continuou a oferecer semestralmente ao vegetal providencial adubo, cuja fórmula já não mais poderia consultar com o avô que morreu já bem velhinho.  Àquela altura, a própria consciência indicava ao jovem como agir. Sucederam-se adubações regadas de paciência, tolerância e amor a Deus e ao próximo.

 

    Por toda a vida Pedrinho seguiu esse inusitado ritual até que, quando na idade de quando seu avô morreu, numa manhã ensolarada, deparou com a árvore repleta de belas flores e alguns frutos. À sua sombra provou muitos deles que eram de sabor indescritível e divino. Foi aí que Pedrinho teve consciência de que, com a ajuda do avô, estivera por todo o tempo cultivando a árvore da vida, da sabedoria e da felicidade.

Cilmar Machado cilmarmachado@yahoo.com.br

Radialista e proprietário da RÁDIO ALVORADA, de Lins (SP)

 

 

 

Seus textos são:

A Árvore 15 de junho de 2015
O Sonho de Genivaldo 1 de julho de 2015
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