VITILIGO: REFLEXÃO E DEPOIMENTO
da Redação
Segunda-feira, 1 de Fevereiro de 2016
Segundo Clarisse F., o vitiligo tem uma carga emocional muito grande, e surgiu num período muito difícil de minha vida, como uma somatização do que vivenciei num colégio que não gostava, quando tinha apenas 14 anos, no auge da vaidade da adolescente. E foi engraçado, pois eu mesma nem havia notado, assim que surgiu. Ainda era meio menina, não muito ligada com aparência. Quem percebeu foi uma médica amiga de minha mãe, quando eu estava brincando na piscina do clube. Quando “caiu a ficha”, quando percebi que estava com a doença, parece que as manchas aumentaram galopantemente, e foi a partir daí que comecei (ironicamente) a ficar mais vaidosa, a prestar mais atenção no espelho, e a sofrer com isso. Acho que se tivesse aparecido hoje em dia eu teria reagido muito melhor – a maturidade traz a auto-aceitação, que tanta falta nos faz na adolescência.
A fototerapia (espécie de onda luminosa), e foi, de todos, o único tratamento que meu organismo reagiu. Foi o tratamento que me repigmentou no início, mas depois de muitos anos me expondo à radiação sem obter mais melhoras, achei por bem abandonar, face ao risco que contrair um câncer de pele, situação, convenhamos, muito pior que o vitiligo, doença cujos efeitos se limitam à estética.
Esgotado esse tratamento, parti para Cuba. Caso alguém se interesse em ir, entrar no site www.cubanacan.com.br O endereço é do Centro de Histoterapia Placentária – Apartado nº 16046, La Habana, Cuba, e o médico responsável: Dr. Ernesto Miyares Días.
Cuba tem tradição no tratamento dessa doença, e achei-os muito sérios e competentes. Ouvi relatos de “hermanos latinos” que lá se trataram e obtiveram êxito. Apesar de não ter me trazido melhoras, valeu pelo passeio inesquecível. Existe um pacote turístico especialmente orientado para tratamentos de saúde em Cuba, subsidiado pelo governo cubano, cujos preços, incluindo estadia, vôo e tratamento, (pelo menos à época que fui – 10 anos atrás), eram muito bons.
Usei durante uns anos uma linha de maquiagem, especialmente desenvolvida para o disfarce das manchas, que possui uma gama de tons de pele. No entanto, depois com o tempo, e de tanto que usei, minha pele acabou desenvolvendo uma reação alérgica. Hoje em dia só uso nos dias de festas especiais. No fundo, foi melhor assim, pois me vi obrigada a enfrentar e assumir a doença. Acabou virando uma marca registrada. E quem quiser gostar de mim, terá que gostar do jeito que sou.
Lembro-me da primeira dermatologista que fui e que ela disse: não é vitiligo, moça, mas “nem te ligo”. Sua frase ficou guardada na memória. Na época, realmente não consegui vivenciar isso, mas hoje em dia, confesso que me superei, e abstraí completamente a mancha. E quer saber? Quanto menos a gente se importa, menos os outros se importarão também. Ninguém percebe. Hoje em dia, se não falo que tenho vitiligo, ninguém nem nota. Quando garota, tinha tanta preocupação com isso, que até atraía os olhares para mancha, mesmo maquiada!
O vitiligo, por ser uma doença de efeito exclusivamente estético, mexe muito com a auto-estima. Hoje em dia percebo que, quando se levantaram do meu lado, no ônibus, dizendo que eu tinha alguma doença infecto-contagiosa (no colégio, cheguei a ouvir até que estava com lepra...), ou olhavam de forma bastante ostensiva, na realidade, eu é que me projetava daquele jeito. O outro é nosso espelho. Acabamos por transmitir aos outros como nos sentimos a nosso respeito. Nunca mais passei por isso.
Depois de tentar tantos tratamentos, e nenhum deles ter me curado plenamente, me senti muito frustrada, abatida, derrotada pela doença. Mas hoje em dia, posso dizer que venci o vitiligo. Ele não me incomoda mais. Estou em paz comigo mesmo, e nada mais me abalará..
UM TRANSTORNO ESTÉTICO
O vitiligo se caracteriza pela despigmentação da pele, formando manchas acrônicas de bordas bem delimitadas e crescimento centrífugo. Também é possível que haja despigmentação do cabelo. Entrevistamos a médica dermatologist, Joyce Meri Vieira de Castro para saber mais sobre esta doença, cuja causas não foi totalmente esclarecida.
“Realmente, a etiologia ainda é desconhecida, mas há hipóteses como a auto-imunidade que explica a sua origem. Sabemos no entanto que ela não é contagiosa e o estado psicossomático tem peso relevante, afirma a Dra Joyce. “Inclusive, O estresse tem afetado o mundo moderno e competitivo atual. Tenho atendido no meu consultório cada vez mais pessoas cujas patologias têm por trás situações pessoais críticas.
O vitiligo não tem preferência por sexo ou raça. Como o vitiligo apresenta um fenômeno que denominamos de "Koebner", isso é: surgimento de lesões em áreas de trauma, vejo muitos pacientes com lesões nas extremidades, como mãos e pés por serem áreas de muito atrito, apesar de acometer qualquer área tendo maior predileção por face, punhos, dorso dos dígitos, genitália, dobras naturais da pele, além de cotovelos e joelhos.
Os tratamentos costumam ser com medicamentos imunomoduladores, que costumam mostrar melhores resultados nas lesões localizadas na face. Os minienxertos de pele são uma das modalidades terapêuticas para locais pequenos, mas nem sempre apresentam resultados positivos. O tratamento à base de Melagenina (derivado da placenta) preconizado por Cuba, é pouco utilizado nos grandes centros de dermatologia do Brasil, conclui a médica.
A fotoquimioterapia com cremes ou comprimidos orais de Psoralenos (método PUVA) ainda é o principal tratamento fototerápico para vitiligo, mas outra fototerapia com UVB de banda estreita (311 nm) vem ganhando popularidade.
Dra Joyce lembra que as lesões de vitiligo por serem completamente desprotegidas, a pessoa ao se expor ao sol de forma intempestiva pode apresentar queimaduras importantes com perigo de futuros cânceres de pele, além de poder piorar do vitiltgo devido o fenômeno de Koebner com aparecimento de novas lesões sobre a pele danificada.
Cada vez mais a indústria farmacêutica vem-se aprimorando, desenvolvendo linhas para o disfarce das manchas, chamado de camouflage. Como o vitiligo é altamente estigmatizado, daí a camuflagem servir de conforto ao doente, enquanto tenta o tratamento adequado
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Dra Joyce Meri Vieira de Castro atua há 30 anos como especialista nas áreas de Dermatologia e Cosmiatria. É membro da Sociedade BrasileirA de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Laser. Extraído de www.idademaior.com.br
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