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PRESO RELATA TORTURAS SOFRIDAS EM PRISÃO

por FANTÁSTICO / REDE GLOBO

Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015

   A semana de 20.Julho.2015 foi marcada por um novo e histórico capítulo no processo de reaproximação entre Estados Unidos e Cuba.  A embaixada cubana em Washington reabriu depois de 54 anos. O governo americano anunciou também que está concluindo o projeto para fechar Guantánamo, a prisão militar em território cubano que abriga acusados de terrorismo.

 

   Um muçulmano preso em Guantánamo escreveu um livro, um diário, contando as torturas e as injustiças que teria sofrido lá. “Um deles me bateu na cara. Vendaram meus olhos. Amarraram meus pulsos e tornozelos com correntes. Comecei a sangrar. Eu achei que eles fossem me matar”.

   Esse depoimento é de Mohamedou Slahi, 42 anos, e foi escrito dentro da cela onde ele está preso há 14 anos: o campo de detenção da Baía de Guantánamo, conhecido como a prisão mais dura do mundo. A Baía de Guantánamo é uma base naval norte-americana, no território de Cuba, a 645 quilômetros de Miami.

   O campo de detenção foi criado em janeiro de 2002 para receber suspeitos de terrorismo depois dos ataques do 11 de setembro. Os presos podem ficar lá para sempre, sem direito a julgamento. De acordo com a Anistia Internacional, torturas são parte do cotidiano da prisão.  O próprio governo dos Estados Unidos já admitiu a prática de tortura no campo.

   “Fui proibido de ver a luz do dia. Pelos 70 dias seguintes, eu não saberia o que era dormir. Interrogatórios três vezes, às vezes quatro vezes por dia”. Um cotidiano que agora é revelado para o mundo. Este é o primeiro livro escrito por um prisioneiro dentro de Guantánamo. São páginas de um diário, escritas à mão, onde Mohamedou Slahi narra os episódios de tortura que ele sofreu para confessar um crime que ele alega nunca ter cometido.

   Tudo que Mohamedou escreveu foi considerado pelo governo norte-americano como sigilo de estado. Foram sete anos de batalha judicial para conseguir liberar a publicação do livro, e mesmo assim, com trechos censurados por tarjas pretas para proteger informações confidenciais, como nomes de funcionários de Guantánamo. “Subitamente um grupo de três soldados entrou. Me socou violentamente, o que me fez cair de cara no chão, e o segundo cara continuou a me socar em todo o corpo, principalmente no rosto e nas costelas. Todos estavam mascarados”, escreveu Mohamedou.

   A repórter Renata Ceribelli pergunta para Nancy Hollander, advogada de Mohamedou, quando o prisioneiro contou para ela sobre a existência do diário.  “Eu conheci Mohamedou em 2005. Eu e outra advogada entramos em uma sala em Guantánamo e ele estava lá. Se levantou e nos abraçou, mas não se moveu. Aí, eu percebi que ele estava acorrentado ao chão. Ele mostrou o caderno que tinha escrito para nos contar o que acontecia com ele na prisão”.

   Mohamedou tinha conseguido o caderno com os carcereiros para ocupar o tempo na solitária. E resolveu fazer um relato do cotidiano para denunciar os abusos.

   Mohamedou nasceu em uma família pobre na Mauritânia, no noroeste da África. Estudou engenharia na Alemanha com uma bolsa de estudos. O editor do livro conta que nessa época, no início dos anos 90, ele, como muitos jovens de várias partes do mundo, foi ao Afeganistão para lutar na guerra civil contra os comunistas, que não permitia que os muçulmanos praticassem sua religião. E foi esse momento que deu origem ao drama de Mohamedou.

   “Para se juntar à guerra contra o comunismo, os jovens tinham que se preparar. O lugar onde Mohamedou foi treinado era um campo de treinamento da Al Qaeda e ele jurou lealdade à organização porque é o que se faz quando se está em um lugar desses”, conta Larry Siems, editor do livro.

   “Esta não era a Al Qaeda que atacou os Estados Unidos mais tarde. E Mohamedou deixou a Al Qaeda antes de acontecer o ataque de 11 de setembro”, alega a advogada. “Eles achavam que ele podia ter sido um dos recrutadores dos pilotos dos aviões do 11 de setembro”.

  Mohamedou chegou em Guantánamo em agosto de 2002, e os piores momentos de tortura que ele narra no livro aconteceram entre 2003 e 2005.

   “Ele trouxe água gelada e encharcou todo o meu corpo. Minhas roupas grudaram em mim. Era horrível, eu tremia como um paciente de Parkinson. Eu não conseguia mais falar”, escreveu Mohamedou.

   “É injusto, ilegal e imoral. Em 2010, um juiz determinou a soltura dele. Mas o governo apelou alegando problemas jurídicos na ação. E isso se arrasta por todos esses anos”, diz a advogada.

   Muitas organizações de direitos humanos pressionam o governo dos Estados Unidos para a desativação de Guantánamo. Aos poucos alguns presos, considerados menos perigosos, estão sendo soltos. Em dezembro do ano passado, seis homens, quatro sírios, um paquistanês e um tunisiano foram soltos no Uruguai, país que aceitou recebê-los.

   Ao todo, 122 pessoas ainda estão presas sem julgamento em Guantánamo.

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